A mudança climática e as batatas

O que sabemos até agora?

Emanuel Van den Broeke nos explica como enfrentar esse desafio.

Os desafios que a agricultura está enfrentando são cada vez mais numerosos e complexos. A combinação de mudanças climáticas, a pressão política para reduzir a utilização de defensivos agrícolas, e a dificuldade de se obter mudas de batata para plantio em 2024 se agravam cada vez mais. Em vista da situação, as empresas de processamento de batatas e os agricultores precisam, juntos, buscar alternativas para manter a qualidade da produção, a sustentabilidade e a rentabilidade.

O clima está cada vez mais extremo. Na Europa, passamos por períodos muito maisquentes e secos durante o período de cultivo da batata. Vemos que os recordes quequebramos sempre apontam para a mesma direção, com recordes de mesessucessivamente mais secos, e verões cada vez mais quentes. E não é só aqui naBélgica: a Europa inteira está sentindo o calor. Os períodos de seca também são, àsvezes, bastante regionais. A seca teve um impacto mais forte de Flandres Ocidentalaté a França, enquanto o centro e o sul do país ficaram em melhor situação.

Este ano, as colheitas foram promissoras, mas o clima chuvoso fez com que o final da temporada fosse tedioso, com as colheitas às vezes se estendendo até dezembro. Não haverá mais nada para ser colhido nesta primavera, praticamente não restando tubérculos nos campos não colhidos. O início da nova temporada, que está seguindo a mesma tendência de chuvas frequentes, promete se mostrar igualmente difícil, resultando em um atraso no plantio das primeiras batatas.

Nós, que vivemos plantando, colhendo, e cuidado da terra, precisamos nos reinventar.

Cabe a cada agricultor, com a experiência que tem na ponta da enxada, encontrar ojeito certo de fazer as batatas prosperarem– mas, frequentemente, são impedidospelos que os políticos dizem o que pode ou não ser feito. A batuta da sinfoniapolítica aponta, atualmente, para a fertilização de vários cultivos, e a regra é reduziro volume de nitrogênio utilizado. Utilizar menos nitrogênio requer utilizar menosesterco e menos fertilizantes químicos. Por um lado, a medida pode afetar ocrescimento dos cultivos e o rendimento de nossas batatas. Por outro lado, quandose coloca menos fertilizante e menos nitrogênio no solo, diminui-se o risco de poluiro lençol freático.

Mas como encontrar o equilíbrio ideal?

Os políticos querem que a gente plante outras culturas antes do inverno, para cobriros campos. A isso, se dá o nome de “Adubos verdes”, ou seja: eles absorvem onitrogênio que sobra no solo. Depois do inverno, a cobertura vegetal vegetação viraadubo, alimentando a nova safra, e redistribuindo os nutrientes para o novo cultivo.Infelizmente, para essa abordagem que dê certo, os agricultores europeus precisamexecutar o plantio antes de 1º de outubro, o que é impossível no caso da batata. Eisso é totalmente incompatível com o cultivo atual de batatas.

A colheita, aliás, está correndo cada vez mais tarde, com variedades tardias ganhando espaço. O problema também ocorre por causa do clima, como na safra de 2023.

É nesse cenário que as empresas do setor podem fazer uma diferença estratégica, ajudando a encontrar soluções inteligentes e inovadoras. Afinal, a colheita precisa ser boa para todo mundo: batata de qualidade para a indústria e lucro no bolso do produtor! A Lutosa, por meio de seus agentes de campo, pode auxiliar oferecendo orientações sobre novas variedades mais resistentes aos diferentes tipos de solo e clima, além de dicas sobre métodos de cultivo mais sustentáveis.

Mas como vamos driblar as secas recorrentes?

Precisamos de um solo saudável, rico em matéria orgânica. Ele precisa ser capaz de absorver e reter água quando ela está presente, para que o solo não forme uma crosta nos períodos mais secos. Para isso, é preciso cuidar da solo adequadamente: adubar com materia orgânica, evitar removê-lo, e evitar ará-lo excessivamente para que os cultivos prosperem. Além dessa sinfonia, temos também a dança das culturas no campo: a rotação! Evite semear as mesmas culturas repetidamente. A batata, só deve ser plantada em um mesmo local a cada três anos. E se quisermos aperfeiçoar nossos métodos, a pausa entre as rotações deve ser ainda maior.

Vocês pretendem plantar outras variedades de batatas?

Ainda estamos testando novas variedades. As variedades de batata resistentes crescem melhor em um ambiente mais seco, quente e estressante, mas ainda assim têm um resultado de produção melhor, apresentando também qualidade superior.

Temos uma novata promissora, que está se multiplicando nos nossos campos. Já estamos trabalhando com ela todos os anos! Ela ecologicamente correta, precisa de menos adubo, é mais resistente ao míldio, e dispensa tantos tratamentos com defensivos agrícolas. A veridade lembra bastante a Fontane, só que um pouquinho mais comprida. Neste ano, a expectativa é de uma colheita de 7 mil toneladas, e, se tudo der certo, essa produção vai crescer exponencialmente.

Como estamos reagindo a esta situação? Como mudamos nossa abordagem? O que precisa ser mudado?

Sabemos que McCain possui uma rede de fazendas-piloto na França para testar novas práticas. Nós, da Lutosa, estamos observando atentamente os principais centros de pesquisa (PCA, FIWAP, CARAH) para identificar práticas que sejam benéficas ou não.

Também seguiremos o exemplo da nossa sede, dando continuidade ao seu projeto de agricultura regenerativa e oferecendo apoio técnico aos agricultores interessados em implementar métodos agrícolas mais sustentáveis.

Como se sentem os agricultores com quem trabalhamos?

Atualmente, a maior preocupação deles é a inflação. O preço dos fertilizantes,produtos fitofarmacêuticos, diesel, e da energia elétrica (que é importante paraventilação e refrigeração) está aumentando vertiginosamente. Outras culturas, comomilho, trigo ou beterraba, tornaram-se novamente muito atraentes. Isso faz com queculturas alternativas, como milho, trigo ou beterraba, voltem a ser muito atrativas. Asituação está pressionando os agricultores a fazer escolhas estratégicas para nãosaírem no prejuízo. O preço dos insumos para cultivo da batata é extremamenteelevado; por exemplo, os campos necessários para o cultivo são bem mais caros emcomparação com outros vegetais. A pressão afeta toda a cadeia de produção,incluindo as plantas, produtos fitossanitários e equipamentos. E se o produtor quiseraproveitar os bons preços, precisa ainda investir em um galpão completo paraarmazenar a safra até junho do ano seguinte e esperar até agosto para receber. Ouseja: além de caro, o processo ainda exige o capital de giro desde o início do plantio.

A área de plantio de batatas vai ser reduzida?

Em curto prazo, sim, mesmo em um cenário em que as indústrias invistam pesado e precisem de cada vez mais batata. Por mais que as novas variedades possuam melhores rendimentos, é impossível ter um bom rendimento todos os anos, tendo em vista os desafios do cenário atual. Associado a esses desafios, temos uma legislação cada vez mais rígida, o que limita o aumento da produção. Os investimentos em boas práticas estão sendo feitos, mas o retorno financeiro ainda deixa a desejar.

Nosso futuro pode ser diferente?

A tecnologia pode ser a resposta para esse desafio. Com uma agricultura cada vez mais digital, podemos monitorar as condições do solo e saber exatamente do que ele precisa. Drones e sensores podem entrar em campo para dar um tratamento personalizado a cada lote, seja para suplementar os nutrientes necessários, seja para auxiliar na fertilização adequada. Infelizmente, a tecnologia eleva os custos de produção; mas, em um cenário de caos climático, precisamos utilizar todos os meios necessários para proteger a natureza– não só para o nosso próprio benefício, mas também para o das futuras gerações.

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